Prefeitura inaugura Parque Pedra de Xangô em Cajazeiras
Inserido na poligonal da Área de Proteção Ambiental (APA) Vale da Avenida Assis Valente, regulamentada pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano PDDU/2016, o Parque Pedra de Xangô, foi inaugurado na manhã desta quarta-feira (4), cinco anos após o tombamento, pelo município, da Pedra de Xangô. O Parque Pedra de Xangô, se constitui como importante símbolo cultural da história de Salvador por ser um espaço voltado para a conservação ambiental, o desenvolvimento sustentável participativo e de salvaguarda, preservação e reconhecimento da Pedra de Xangô como patrimônio cultural afro-brasileiro.
Localizado às margens da Avenida Assis Valente, entre Cajazeiras X e Fazenda Grande II, o Parque Pedra de Xangô é um projeto coordenado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e elaborado pela FFA Arquitetura e Urbanismo com efetiva participação da comunidade local, especialmente de representantes de religiões de matriz africana e com a colaboração de acadêmicos, pesquisadores e ambientalistas. Sim, este é um projeto construído a muitas mãos e com profundo senso de coletividade.
"Para a Fundação, o projeto urbanístico não se traduz apenas em um desenho urbano, mas deve expressar, sobretudo, as relações sociais, culturais e religiosas que se dão no espaço. É por isso que consideramos de extrema importância a participação efetiva de todos aqueles que vivem ou trabalham no local. O projeto do Parque Pedra de Xangô foi um grande convite para entender estas relações, trazer as discussões, construir um espaço sagrado, de valor religioso e de significado a persistente luta contra a intolerância e a discriminação. Um espaço verde que naturalmente abraça e reverência a Pedra de Xangô. Um belo Parque. Assim pensamos!" avalia a presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield.
Ampliação da poligonal do Parque - Com uma área de intervenção urbanística de 67.163,06m², o Projeto do Parque da Pedra de Xangô contempla a criação da via de monitoramento e o desvio da Avenida Assis Valente, o que, inclusive, permitiu a Prefeitura ampliar a poligonal do Parque protegendo a Pedra de Xangô, que está envolvida por uma vegetação remanescente de Mata Atlântica, reforçando, assim, o caráter sagrado do local.
O equipamento apresenta-se como uma contribuição para a melhoria das condições socioambientais da região de Cajazeiras e adjacências. Moradores e frequentadores do local entendem que a criação da APA Municipal é uma estratégia foral e espacial que atua como escudo contra um avanço indesejado sobre a Mata Atlântica, evitando a derrubada de árvores para implantação de loteamentos clandestinos em áreas de proteção. É importante destacar aqui que o equipamento tem licença ambiental - Portaria 389/2019 (dom, de 18/10/19) e aviso de licitação, concorrência número 022/2019 (dom, de 07/11/19).
Taipa de pilão - A única edificação projetada é a um Memorial com cerca de 500 metros quadrados de área construída e que tem o objetivo de abrigar os registros e experimentos das principais funções do Parque, além de fortalecer os laços dos seus frequentadores com a natureza e o conhecimento das práticas religiosas e ambientais. O Parque é o próprio protagonista, tanto por questões religiosas, quanto por questões ambientais.
O partido arquitetônico do memorial materializa o conceito que permeou toda a concepção do projeto ao acompanhar a forma das curvas da encosta e utilizar materiais ligados a simbologia do ambiente: paredes construídas em taipa de pilão, tijolo ecológico e pilares metálicos, referências a elementos relacionados a Terra e ao Orixá Xangô. Nesse espaço foram projetadas uma sala multiuso, área para exposição de trabalhos, administração do Parque, sanitários e um espaço destinado à comercialização de comidas e artesanatos.
Tombamento - Símbolo sagrado e elemento cultural afro-brasileiro, a Pedra de Xangô, foi tombada em maio de 2017, pela Prefeitura de Salvador, como patrimônio cultural do município. No parecer técnico da Fundação Gregório de Mattos (FGM) há o entendimento de que a formação rochosa de 8 metros de altura e, aproximadamente, 30 metros de diâmetro, vinculada ao culto religioso afrodescendente, que a reconhece como Altar de Xangô, “é considerada um monumento natural, um marco na história de resistência daqueles que sofreram com a escravidão em Salvador, pois, segundo a tradição oral, servia como passagem e esconderijo de quilombolas perseguidos.
História – No livro "Pedra de Xangô: um lugar sagrado afro-brasileiro", fruto de dissertação de mestrado de Maria Alice Pereira da Silva, defendida no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia há importantes relatos sobre a história da Pedra de Xangô. Citando o historiador Stuart B. Schwartz, Maria Alice revela que “o Quilombo Buraco do Tatu, localizado a leste-nordeste da cidade de Salvador, próximo à atual praia de Itapuã - Ipitanga, teve início em 1743 e foi destruído, quase vinte anos depois, em 02 de setembro de 1763. Era um mocambo bem estruturado, possuía um sistema de defesa militar engenhosamente definido. Inúmeras trilhas falsas e armadilhas eram utilizadas para confundir as expedições reescravizadoras e facilitar a fuga durante os ataques”.